O programa Oficinando em Rede de Mossoró articula projetos de extensão, pesquisa e ensino, em parceria com as comunidades e os serviços de promoção da Aprendizagem e do Cuidado em ambientes de educação e de saúde mental que atendem sujeitos e coletivos no município de Mossoró RN e cidades circunvizinhas. O denominador comum desses projetos, noa ambientes de cuidado em saúde mental, é a experimentação de diferentes linguagens – pintura, teatro, cirandas, brincadeiras e tecnologias da informação e da comunicação no campo da saúde mental, em ambientes que atendem crianças, jovens e adultos que vivem em diferentes circunstâncias de sofrimento psíquico. Já nos ambientes dirigidos à promoção da aprendizagem, priorizamos o trabalho de criação de didática, contando com aportes das ciências da educação, em perspectiva interdisciplinar, que permitem a todes a experiência de aprender nas escolas. Os projetos são tecidos em perspectiva transdisciplinar e já acontecem em ambientes de saúde mental de nossas comunidades e/ou em ambientes dirigidos à aprendizagem na educação, na medida em que estes se veem ainda tão fragilizados no sentido do cuidar e aprender, processos urgentes e necessários quando tratamos das dimensões constitutivas que sustentam o viver humano.
As especificidades de cada linguagem / tecnologia e as particularidades do contexto em que opera determinam as diferenças entre os projetos aqui propostos à diferentes comunidades, espaços educativos – professoras/es alfabetizadoras/es, estudiosos da educação, artistas, clientes atendidos na saúde mental, todes que conosco fazem a experiência. Podemos considerar como princípio metodológico que é comum a todos os projetos que integram o Programa Oficinando em Rede de Mossoró RN, o engajamento dos seus participantes na construção da proposta, colocando os processos de aprender e cuidar, as artes e as tecnologias de informação e comunicação, a serviço de uma enunciação própria desses sujeitos, fazendo-os protagonistas na tessitura de redes que as múltiplas linguagens, saberes e conhecimentos vêm favorecer. Tal princípio de um trabalho coletivo coaduna com os princípios e diretrizes da política educacional do Brasil para o período de 2014 a 2024; política nacional de saúde mental em vigência até o ano de 2016, com as mudanças e avanços construídos na experiência direta, em termo de estruturas de atendimento que se tornam presentes no social.
Paulo Freire nos acompanha na aprendizagem que com ele realizamos diretamente que indica que educação – aqui saúde mental – fazemos com os sujeitos e não para os sujeitos. Emília Ferreiro nos ajuda com suas pesquisas dirigidas a aprendizagem na alfabetização – psicogênese da leitura e da escrita. As composições didáticas do GEEMPA – Grupo de Estudos em educação, Metodologia de Pesquisa e Ação e as criações do grupo Multi Ufrgs – livros em multiformato também são trazidos à reflexão e experiência. Nise da Silveira nos orienta com sua obra, aqui destacamos o afeto catalisador que está no centro de nossas práticas. Humberto Maturana e Francisco Varela nos inspiram a pensar sobre a potência das formas de linguajar que produzem a experiência humana e as possibilidades de seguirmos atualizando modos de conservar o viver que queremos; Gilbert Simondon, com seus estudos sobre os modos de devir humanos agindo sobre nós mesmos na busca de soluções para o que nos aflige a cada instante, com destaque para os trabalhos sobre a individuação humana e a individualização dos objetos técnicos na composição deste conjunto constituído pelo pensamento humano, as tecnologias e as sociedades. Mais recentemente, Vitor Pordeus, Ray Lima, Junio Santos, Vera Dantas tecem redes e trabalhos inovadores em nosso país. Teatro, como método na promoção da saúde mental aprendemos com estes brilhantes atores e educadores populares em saúde. Vitor Pordeus dá seguimento ao trablho da mais importante mestra da saúde mental brasileira, Nise da Silveira e estamos nos dedicando a aprender com a belíssima e necessária experiência que Vitor coordena no Rio de Janeiro.
Seguimos neste fazer da construção de práticas de cuidado, com rigor e amorosidade necessários nesta busca de sustentação do viver.
Enquanto Programa de Extensão Universitária, o fazer envolve a articulação com ensino e pesquisa e uma implicação do fazer universitário com as necessidades mais prementes de nossas comunidades do semiárido nordestino, onde os serviços em educação básica e em saúde mental necessitam urgentemente de apoio e qualificação. Cada bolsista desenvolve ações semanais em escolas, ambientes de formação no Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas na Ufersa, em Centros de Atenção Psicossocial, produzindo e experienciando um projeto individual e/ou coletivo de pesquisa e realiza processos de formação de profissionais em saúde mental, atividade esta que culmina na realização de um Evento anual, a Jornada de Estudos do programa Oficinando em rede. Deste modo, construímos um fazer universitário em sintonia com as questões colocadas nas comunidades onde estamos inseridos.